Dois novatos estão balançando o mercado de utilitários-esportivos (SUVs) compactos: o Renegade e o HR-V. Ambos foram lançados no primeiro trimestre e já ultrapassaram, em número de emplacamentos, o Ford EcoSport e o Renault Duster, que então lideravam a categoria. O modelo da Jeep, inclusive, foi o preferido dos consumidores na primeira quinzena de julho, ao passo que o resultado acumulado de janeiro a junho mostra ampla vantagem para o rival da Honda. Tal como ocorre com alguns astros do UFC, eles tiveram carreiras meteóricas e rapidamente conquistaram seu lugar ao sol. Nada mais natural, então, que colocar os dois frente a frente em um duelo.
Apesar de atuarem no mesmo segmento, os dois modelos mostram técnicas distintas para entrar na briga. Exatamente como em um vale-tudo! O HR-V tem uma pegada mais urbana, com estilo mais agressivo e menor altura em relação ao solo. Já o Renegade é mais parrudo e evoca o off-road desde o design até a maior altura em relação ao solo. O motor de ambos é 1.8 16V. O da Honda é mais potente, entregando 140 cv a 6.500 rpm com etanol e 139 cv e 6.300 rpm com gasolina, enquanto o rival desenvolve 132 cv com o combustível vegetal e 130 cv com o derivado do petróleo, a 5.250 rpm. Por outro lado, o propulsor do Jeep gera mais torque: são 19,1 kgfm com etanol e 18,6 kgfm com gasolina, a 3.750 rpm, contra 17,3 kgfm a 4.800 rpm e 17,4 kgfm a 5.000 rpm, respectivamente. O câmbio é automático em ambos, com seis marchas no Renegade e do tipo CVT que simula o mesmo número de marchas no HR-V.
Em ação
Apresentadas as habilidades de ambos os oponentes, é hora de colocá-los no octógono. Na prática, em desempenho, apesar do equilíbrio entre os números, o HR-V mostra superioridade em relação ao Renegade. O SUV da Honda arranca com mais agilidade e retoma velocidade com maior rapidez. Isso ocorre, principalmente, em função da diferença de peso entre ambos: enquanto o japonês registra 1.276 kg na balança, o norte americano tem 1.440 kg de massa corporal. Quase uma briga entre peso-pena e peso-pesado, que, no caso, acaba beneficiando o primeiro.
Porém, nem tudo é desempenho, e há outros quesitos que devem ser avaliados quando o assunto é dirigibilidade. O acerto de suspensão, por exemplo, agrada mais no Renegade, que tem melhor compromisso entre conforto e estabilidade: ele absorve bem as imperfeições do solo e entrega ótimo controle direcional em curvas. Já o HR-V tem um acerto mais durinho, que o deixa muito estável, mas, por outro lado, faz com que os ocupantes sintam mais os impactos provenientes de valetas, quebra-molas, buracos e outros obstáculos
A transmissão, por outro lado, agrada mais no Honda. Seu funcionamento linear, típico do sistema CVT, faz com que ele responda sempre na medida certa aos comandos do acelerador, e ainda traz seis marchas virtuais caso o motorista queira operar o sistema de modo sequencial, por meio de aletas no volante. Já o Jeep, que traz uma caixa automática convencional, com conversor de torque e seis velocidades, não efetua os câmbios sempre nos melhores momentos: a central eletrônica “segura” demais as marchas, mantendo o propulsor girando alto em situações nas quais isso não é necessário, embora também existam paddle-shifts para trocas sequenciais. A direção tem assistência elétrica em ambos e apresenta resultados igualmente satisfatórios, leve em manobras e firme em alta velocidade, graças à boa progressividade. Os freios, a discos nas quatro rodas com ABS, são igualmente eficientes nos dois modelos. Neste round, os dois SUVs ficam empatados.
Espaço
Em termos de habitalidade, o Renegade volta a abrir vantagem em ergonomia, com todos os comandos bem-posicionados. Embora ambos tenham banco do motorista e volante ajustáveis, o HR-V comete falta porque esse segundo componente tem aro muito fino, que dificulta a pegada, e pela localização das entradas USB e auxiliar do sistema de som, instaladas em um nicho no console central – esse recurso é até interessante do ponto de vista estético, pois faz parecer que a peça tem “dois andares”, mas o manuseio é pouco prático.
Por outro lado, o competidor da Honda dá o troco no espaço interno maior, principalmente atrás: além de apresentar vão mais generoso para as pernas, o SUV nipônico ainda dispõe de assoalho plano, que libera a área para os pés do quinto ocupante. O HR-V também é superior na capacidade o porta-malas: seu bagageiro comporta 431 l, contra apenas 260 l do rival. É verdade que essa vantagem é explicada, em parte, pelo uso de um estepe temporário, mais fino; no Jeep, ele tem as mesmas medidas dos demais pneus. Ainda assim, pela ampla vantagem em espaço, o HR-V vence o round.
Construção
A luta prossegue, e chega a hora de mostrar as habilidades em qualidade de construção. Ambos se saem bem nesse quesito, com carroceria sem desalinhamento entre as peças e interior bem-acabado, com peças milimetricamente encaixadas. Nesse aspecto, porém, o Renegade mostra-se superior, pois utiliza material emborrachado em quase todas as superfícies do painel, enquanto no HR-V o plástico convencional é predominante. Além do mais, o Jeep apresenta melhor isolamento acústico. No Honda, é possível ouvir o ronco do motor com mais intensidade dentro do habitáculo, especialmente em rotações mais altas.
Os dois chegam ao round final empatados. O que irá decidir o confronto é o consumo de combustível. Ponto para o HR-V, que foi sempre mais econômico: nas mãos do Carro&Cia, ele cravou 7,7 km/l na cidade e 9,4 km/l na estrada, enquanto as marcas do Renegade foram de 6,5 km/l e 8,9 km/l, respectivamente. Ambos estavam abastecidos com etanol.
Vencedor
No fim, o HR-V leva o cinturão por triunfar em desempenho, habitalidade e consumo de combustível. O Renegade, por sua vez, superou o adversário em nível de equipamentos e em qualidade de construção. Em dirigibilidade, os dois empataram. Como se vê, a luta foi equilibrada e decidida por poucos pontos.